TODO O COMPORTAMENTO TEM UMA INTENÇÃO POSITIVA

Uma chave… um click. Ao abrir uma porta podemos entrar ou sair. Podemos descobrir um mundo novo numa sala, num baú ou num cofre, como podemos sair e descortinar novas paisagens e horizontes. Nunca mais seremos os mesmos depois de abrir determinadas portas. Considero este pressuposto da PNL como uma destas chaves. Pode ajudar a desenvolver uma comunicação mais pacífica e construtiva, levando a relações mais colaborativas e funcionais.

UMA CHAVE PARA A VIDA

Ao compreender a verdadeira causa das ações do outro, vais diminuir a tua reatividade emocional negativa e aumentar as hipóteses de manter a serenidade. Assim, estarão criadas as condições para um diálogo mais frutífero.

Todo o comportamento tem uma intenção positiva significa que todo o comportamento tem um propósito e responde a uma necessidade interna e subjetiva, nem sempre consciente ou observável apenas através do comportamento em si.

PARA ALÉM DO COMPORTAMENTO OBSERVADO

Muitas vezes uma resposta agressiva, seja física ou verbal, tem a intenção positiva de proteção (do próprio), mas o resultado pode ser o oposto. Uma pessoa em posição de chefia e com a crença limitadora de que não é suficientemente capaz ou mesmo com o que se costuma chamar de “síndrome do impostor”, pode tratar os subordinados com agressividade verbal, para esconder a própria insegurança, de forma inconsciente. Esse comportamento agressivo poderia também ter o propósito oculto de lidar com o próprio stress em relação ao desempenho da sua equipa ou de lidar com a sobrecarga de trabalho e responsabilidades. Várias pessoas com quem trabalhei queixavam-se desse tipo de atitudes dos seus chefes no trabalho, sobretudo pelo volume e tom da voz com que davam feedback. Depois de descobrirem a intenção por trás daquela atitude, deixaram de considerar a atitude desses líderes como um ataque pessoal e passaram a sentir-se menos afetadas a nível emocional. Além disso, encontraram formas mais eficazes de comunicar.

Reconhecer a intenção positiva de um comportamento não significa que o comportamento em si seja “positivo”, ou que o aceitemos. Podemos rejeitar o comportamento e continuar a considerar a pessoa, enquanto ser. Permite evitar a redução da identidade de alguém a um comportamento e a um contexto.

HONRAR A INTENÇÃO, ULTRAPASSAR A CRENÇA LIMITADORA

São quase sempre as crenças limitadoras que levam a atitudes e comportamentos que, embora tenham uma intenção boa, não são funcionais e podem impedir de obter os resultados esperados.

A nível emocional o mecanismo é o mesmo. O medo, por exemplo, responde normalmente à necessidade de segurança, de manter-se na zona de conforto, o que faz desta emoção um dos principais obstáculos para realizar sonhos e objetivos. Se alguém tem dificuldades/medo de falar em público, esse medo pode advir de um evento traumatizante no passado – como estar a falar diante da turma na escola e ser ridicularizado pelos colegas -, dando origem a uma crença inconsciente e generalizada sobre o suposto perigo da exposição. O propósito desse medo, ou seja, a proteção, precisa de manter-se para ressignificar a crença e permitir a manifestação da confiança.

A raiva em geral responde à necessidade (intenção positiva) de impor limites, defender os próprios valores e impele à ação. Mais uma vez, a reação será disfuncional se estivermos a reagir apenas a gatilhos e crenças criadas no passado. Ao sofrer uma injustiça, uma criança pode levar para a vida adulta uma hipersensibilidade e reatividade exagerada a qualquer situação, tendendo a interpretar como injustas situações cujos detalhes desconhece.

Muitas vezes comer em excesso ou procurar “comidas de conforto” pode responder à necessidade de colmatar uma dor emocional, procurando prazer na comida, mesmo que fugaz.

Hábitos como fumar podem responder a diferentes necessidades como fazer pausas, ter uma ocupação para as mãos, tranquilizar-se ou ter um momento dedicado a si mesmo. É muito mais difícil parar de fumar se esses ganhos não forem mantidos de alguma outra forma.

Ver demasiada televisão pode responder à necessidade de se sentir acompanhado e de convívio social, mesmo que ilusório ou uma forma de evitar o confronto com as próprias emoções e situações de vida. Nota que estas hipóteses são apenas exemplos e que a intenção positiva vai sempre depender do mapa de mundo de cada pessoa.

Mesmo os sintomas físicos, incluindo a dor, podem ter intenções positivas. Na PNL considera-se qualquer sintoma, físico ou emocional, como uma forma de alertar para algo que não está bem, a não ser que seja um sintoma provocado pelo processo de cura.

Os traumas em geral têm como consequência a criação de emoções e comportamentos defensivos, não controláveis no nível consciente. Tornamo-nos reativos e sensíveis a determinados gatilhos relacionados com traumas específicos.

MUDAR COMPORTAMENTOS NÃO FUNCIONAIS COM A PNL

Como usamos em PNL o princípio da intenção positiva para mudar comportamentos não funcionais?

Da mesma forma que no nível físico, não basta combater o sintoma, é preciso tratar a causa. O mesmo se aplica aos comportamentos. Quando a necessidade ou propósito que está por trás do comportamento problemático se torna claro, torna-se possível identificar recursos e comportamentos alternativos que possam atender àquela intenção positiva de forma mais ecológica e equilibrada para o sistema interno. Assim, mantém-se o propósito positivo e cria-se a possibilidade de mudança, ou seja, a mudança torna-se aceitável, ecológica.

Ao nível terapêutico, permite a aceitação de nós próprios ao olhar para as nossas fraquezas como tentativas de repor o equilíbrio do sistema, na sequência de acontecimentos traumáticos. Depois desta compreensão, as portas para promover a mudança estarão abertas e o caminho mais fácil.

Outra abordagem pode ser a mudança da crença limitadora que está por trás da necessidade. Para tal, pode-se recorrer a uma das inúmeras técnicas que a PNL oferece.

Na PNL desenvolveram-se inúmeras técnicas para criar mudanças ao reprogramar crenças e estratégias ao nível inconsciente, o que levará a mudanças emocionais, comportamentais e corporais.

APLICAÇÃO NO DIA-A-DIA

Para utilizar este pressuposto no dia-a-dia, pensa na intenção positiva de um comportamento que te incomoda e procura comunicar a partir daí. No outro dia, eu estava na fila da caixa de um supermercado e uma jovem à minha frente colocou algumas laranjas soltas no balcão. O rapaz que a atendia imediatamente agarrou num saco plástico transparente e acondicionou as laranjas. A jovem reagiu mal, acusando-o de inconsciência em relação ao planeta. O rapaz, cuja intenção era ser gentil, ficou ofendido… teria sido mais produtivo e pacífico reconhecer a boa intenção do rapaz e depois explicar porque recusa a utilização do plástico. Um incidente simples, mas desgastante e representativo de tantas outras situações muito mais graves a que podemos estar sujeitos.

Todos os pressupostos da PNL estão interligados e complementam-se na clarificação e compreensão do modus operandi da Programação Neurolinguística e, sobretudo, na contribuição que a sua prática pode trazer para uma convivência mais pacífica, gentil e generativa entre humanos e destes com o ambiente.

Texto de Luzia Wittmann, diretora do InPNL