
BUSQUE O FLUXO, NÃO A PERFEIÇÃO
Ainda há uma convicção generalizada de que o comportamento perfeccionista é um fator fundamental de sucesso, melhoria contínua e autorrealização. No entanto, a procura exacerbada pela perfeição pode ser mais um obstáculo do que uma alavanca para o sucesso e a felicidade.
O QUE IDENTIFICA UM/A PERFECCIONISTA?
– Tem uma grande exigência consigo próprio
– Estabelece patamares muito altos de responsabilidade
– Acha insuficientes os resultados dos seus trabalhos ou conquistas
– Depende muito da opinião de outros em relação ao valor dos próprios resultados
– É crítico e exigente em relação aos outros
– Não aceita cometer erros
– Pode refazer várias vezes um trabalho para aperfeiçoá-lo
– Pode trabalhar até a exaustão para fazer algo perfeito
– Procura manter o controle sobre todas as circunstâncias
CONSEQUÊNCIAS DO PERFECCIONISMO
Com essas características, qualquer atividade pode provocar mais dor do que prazer, seja durante o processo, seja no fim, porque dificilmente se alcança a satisfação, a não ser de forma fugaz, pelo elogio do outro. Na verdade, o perfeccionismo pode baixar a produtividade, alimentar uma sensação de tristeza e desânimo, estagnar a evolução pessoal e levar à depressão, ao burnout e até mesmo ao suicídio.
POR TRÁS DO PERFECCIONISMO
Ao aprofundar um pouco o que está por trás do perfeccionismo, aparece o medo de não agradar, de ser rejeitado e de não merecer o amor dos outros. A pessoa perfeccionista está num caminho em que a dor é preponderante – diferente da via da excelência, em que o impulso é o prazer, a motivação está em algo maior, o percurso é fluido, e o resultado abre para novos caminhos e objetivos.
Todas as variantes do perfeccionismo incluem o julgamento. As vertentes mais comuns são o autojulgamento e o julgamento do outro.
- Quando o perfeccionismo se manifesta em relação ao outro, a pessoa dificilmente consegue relacionamentos estáveis. A sua expectativa e consequente exigência em relação ao outro acaba por ser inevitavelmente frustrada, levando a uma crescente sensação de deceção e desinteresse, até chegar ao afastamento.
- O julgamento de si mesmo, por outro lado, funda-se na pressuposição de expectativas imaginárias da parte dos outros. Um estudante, por exemplo, pode sofrer muito enquanto realiza um trabalho, devido aos pensamentos negativos recorrentes em como o professor irá reagir ao perceber que afinal não consultou toda a bibliografia disponível, ou caso encontre alguma gralha ou erro ortográfico. O stress causado pelo medo pode dificultar o desempenho.
CONVIVER QUOTIDIANAMENTE COM PADRÕES IRREALISTAS
Tendencialmente, o perfeccionista estabelece padrões irrealistas nos seus objetivos. Considera que o seu sucesso se deve à abnegação e empenho e muitas vezes não se dá conta de que conseguiu o sucesso apesar das suas convicções e dos padrões irrealistas, e não por causa deles. Regra geral, ao alcançar os seus objetivos, o prazer que finalmente sente não corresponde ao esperado nessas circunstâncias, por estar minado pelo secreto pensamento de que deveria ter feito melhor.
Com medo de não terem um desempenho perfeito, podem deixar na gaveta muitos dos seus projetos e sonhos.
Ao levantar vantagens e desvantagens do comportamento perfeccionista junto aos meus clientes / coachees e alunos, percebi que muitas vezes chegam à conclusão de que a sua vida está desequilibrada, com níveis de ansiedade e stress muito altos.
Entre as desvantagens que aparecem com frequência está o reconhecimento de ficarem tão nervosos e tensos que se torna mais difícil realizar um trabalho bom e adequado; sentem-se menos criativos, com medo de arriscar-se a cometer erros; evitam aventurar-se em atividades e experiências novas; divertem-se menos por serem demasiado autocríticos; têm dificuldade em relaxar e podem tornar-se demasiado críticos em relação aos outros.
COMO MUDAR?
Em Programação Neurolinguística (PNL), procuramos em primeiro lugar separar o comportamento da intenção. Este procedimento permite tomar consciência de que o comportamento é apenas a estratégia adotada, a nível inconsciente, para salvaguardar algo importante, como ser amado/a, aceite e protegido/a.
A estratégia de buscar a perfeição exacerbada está apoiada em convicções não funcionais, que têm origem em vivências exigentes na escola e / ou com os pais. Uma crença de que tinham de ser perfeitos/as para merecer o amor e a aceitação dos pais e professores.
Ao reconhecer a intenção positiva, torna-se possível adotar novas estratégias para realizar os mesmos objetivos: sucesso, bem-estar, amar e sentir-se amado/a e aceite.
Entre os fatores que desenvolvem o comportamento perfeccionista, o mais comum é a educação: pais e professores, ao exigir desempenhos muito elevados tanto na escola como noutras atividades, muitas vezes passam a convicção de que só ao serem perfeitos/as é que filhos/as e alunos/as são merecedores de carinho e atenção. Muitas vezes, pais perfeccionistas dependem do sucesso dos filhos para se sentirem pais bem-sucedidos, mostrando desânimo e deceção quando os filhos não têm a nota máxima, mesmo que tenham um bom desempenho escolar. A criança interioriza que cada falha é digna de castigo ou causa dor e deceção, em vez de ser apenas parte da aprendizagem e que apenas será amada se for perfeita.
Mais tarde, enquanto adulta, tem consciência da ansiedade, dos receios, da dificuldade em realizar as tarefas com a perfeição que supõe necessária, mas só o fato de ter consciência não chega para mudar o comportamento. É necessário neutralizar o efeito dessas aprendizagens de infância e criar novas estratégias mentais internas.
Um dos segredos para aumentar a sensação de satisfação e felicidade, segundo Daniel Goleman, é aprender a fluir em quaisquer atividades, o que acontece sempre que se está totalmente absorto no que se está a fazer.
A questão é como chegar aí. Como desenvolver a capacidade de entrar nesse fluir (flow), superar o stress e o medo. A PNL oferece diversas técnicas e possibilidades para realizar o processo de mudança. Um dos procedimentos mais eficazes para estes casos é a Linha do Tempo, em que é possível mudar a memória emocional e o significado de certos episódios marcantes no passado e, assim, neutralizar convicções que causam sofrimento e limitam a plena realização na vida.
Texto de Luzia Wittmann, diretora do InPNL